05
Abr
2014
Lenda da Fajã da Caldeira de Santo Cristo
Há muitos anos, como agora ainda acontece, por vezes, as pessoas das várias freguesias de São Jorge iam às Fajãs passar partes do ano com os seus gados ou apenas durante um bocado do dia para pescar, apanhar lapas. Numa das Fajãs havia uma linda e mansa lagoa de água salgada.
Ali apanhavam amêijoas que se desenvolviam abundantemente nas águas límpidas e mansas. Outras vezes apanhavam lapas, polvos, moreias, por entre as pedras da costa, nas poças que ficavam nas redondezas da lagoa.
Um certo dia, um homem de cima veio cá abaixo à caldeira. Andou muito tempo por um atalho custoso e apertado e, quando chegou junto à caldeira, sentou-se para descansar um pouco antes de ir pescar. As pernas até lhe tremiam do esforço da descida, mas, com a vista que dali de desfrutava, depressa se sentiu descansado.
Quando vagueava com o olhar pela lagoa, deparou-se com um objecto que lhe parecia ser uma imagem de Senhor Santo Cristo. Levantou-se logo e pegou na imagem que, apesar de estar metida na água, não estava apodrecida. Ficou todo contente com aquele achado. E não era para menos porque, naqueles tempos, achar uma garrafa na costa ou um pranchão era já uma sorte, quanto mais um santinho tão bonito.
Quando voltou para casa ia tão satisfeito que a difícil subida nem lhe custou nada. Puseram o Santo Cristo no melhor quarto da casa.
Mas no outro dia pela manhã, para desgosto e espanto de toda a a família, o santo já tinha desaparecido. Procuraram-no e vieram encontrá-lo no areal, nas margens da caldeira. E o episódio repetiu-se. Por fim alguém disse:
– Santo Cristo quer estar lá em baixo à beira da caldeira.
O povo juntou-se e decidiu fazer uma igreja. Pensaram levantá-la na outra banda da lagoa, mas, quando tentaram levar para lá a pedra, não conseguiram. O lugar era ali, perto de onde Santo Cristo tinha aparecido.
Depois de muito sacrifício e trabalho, a igreja ficou concluída e lá puseram a imagem.
Assim, aquela linda fajã passou a chamar-se caldeira do Santo Cristo. E o povo, que gosta muito de se divertir para esquecer trabalhos e sofrimentos, em pouco tempo começou a fazer uma festa muito grande e bonita, onde os festejos religiosos se completavam com diversões profanas. Bailava-se alegremente e era frequente ouvir, durante a dança, os homens entoarem esta antiga:
O Senhor Santo Cristo
Onde foi fazer morada?
Para a rocha da Caldeira,
Perto da água salgada.
A certa altura o senhor padre, por qualquer razão, não queria o Santo Cristo na igreja e decidiu levá-lo para casa. Pegou na imagem, mas não se conseguia mexer, os pés ficavam aferrados ao chão. Disse então ao sacristão:
– Ajuda-me aqui que eu não posso andar.
O sacristão bem tentou, mas por fim confessou:
– Ó senhor padre, eu também não consigo dar passada!
– Então deixa-se o santinho aqui – disse o padre.
E assim foi. Logo os pés e as pernas ficaram ágeis e o padre e todas as pessoas se convenceram que era ali que Santo Cristo tinha de ficar.
Ali apanhavam amêijoas que se desenvolviam abundantemente nas águas límpidas e mansas. Outras vezes apanhavam lapas, polvos, moreias, por entre as pedras da costa, nas poças que ficavam nas redondezas da lagoa.
Um certo dia, um homem de cima veio cá abaixo à caldeira. Andou muito tempo por um atalho custoso e apertado e, quando chegou junto à caldeira, sentou-se para descansar um pouco antes de ir pescar. As pernas até lhe tremiam do esforço da descida, mas, com a vista que dali de desfrutava, depressa se sentiu descansado.
Quando vagueava com o olhar pela lagoa, deparou-se com um objecto que lhe parecia ser uma imagem de Senhor Santo Cristo. Levantou-se logo e pegou na imagem que, apesar de estar metida na água, não estava apodrecida. Ficou todo contente com aquele achado. E não era para menos porque, naqueles tempos, achar uma garrafa na costa ou um pranchão era já uma sorte, quanto mais um santinho tão bonito.
Quando voltou para casa ia tão satisfeito que a difícil subida nem lhe custou nada. Puseram o Santo Cristo no melhor quarto da casa.
Mas no outro dia pela manhã, para desgosto e espanto de toda a a família, o santo já tinha desaparecido. Procuraram-no e vieram encontrá-lo no areal, nas margens da caldeira. E o episódio repetiu-se. Por fim alguém disse:
– Santo Cristo quer estar lá em baixo à beira da caldeira.
O povo juntou-se e decidiu fazer uma igreja. Pensaram levantá-la na outra banda da lagoa, mas, quando tentaram levar para lá a pedra, não conseguiram. O lugar era ali, perto de onde Santo Cristo tinha aparecido.
Depois de muito sacrifício e trabalho, a igreja ficou concluída e lá puseram a imagem.
Assim, aquela linda fajã passou a chamar-se caldeira do Santo Cristo. E o povo, que gosta muito de se divertir para esquecer trabalhos e sofrimentos, em pouco tempo começou a fazer uma festa muito grande e bonita, onde os festejos religiosos se completavam com diversões profanas. Bailava-se alegremente e era frequente ouvir, durante a dança, os homens entoarem esta antiga:
O Senhor Santo Cristo
Onde foi fazer morada?
Para a rocha da Caldeira,
Perto da água salgada.
A certa altura o senhor padre, por qualquer razão, não queria o Santo Cristo na igreja e decidiu levá-lo para casa. Pegou na imagem, mas não se conseguia mexer, os pés ficavam aferrados ao chão. Disse então ao sacristão:
– Ajuda-me aqui que eu não posso andar.
O sacristão bem tentou, mas por fim confessou:
– Ó senhor padre, eu também não consigo dar passada!
– Então deixa-se o santinho aqui – disse o padre.
E assim foi. Logo os pés e as pernas ficaram ágeis e o padre e todas as pessoas se convenceram que era ali que Santo Cristo tinha de ficar.
Ângela Furatado-Brum, Açores, lendas e outras histórias, 1999
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